ROMEU CARILLO JUNIOR
(1953 - 2019 - BRASIL)
Talvez estejamos pagando, e continuemos a pagar, um elevado preço pela concepção atual de doença e, consequentemente, pelas terapêuticas instituídas indiscutivelmente aceitas. Quem hoje se atreveria a defender o método de Brossais(*), tão consagrado e utilizado pela medicina clássica na Europa? Segundo Hahnemann, mais pessoas morreram em consequencia desse método do que nos campos de batalha de Napoleão. Mas, poderiam argumentar alguns, dois séculos se passaram e a medicina evoluiu assustadoramente; os métodos hoje utilizados não se comparam aos de Brossais. De certo modo, tal argumento é válido dentro de uma evolução de duzentos anos e, portanto, daqui a mais duzentos talvez estejamos diante de uma crítica semelhante! O que faz crer nessa possibilidade é o fato de a ciência médica ter evoluído assombrosamente sob o aspecto técnico, mas mudado muito pouco com relação à concepção de doença. Somente uma radical transformação desse paradigma resultaria numa efetiva transformação da proposta terapêutica, uma vez que esta última deve ser compatível com o primeiro. (*)Sangria.Extraído de O MILAGRE DA IMPERFEIÇÃO (ROMEU CARILLO JUNIOR) |
A Homeopatia encontra-se envolta num mar de formas de prescrição calcadas em conceitos diversos e algumas vezes pouco fundamentados. Uma das exigências do procedimento científico é a forma reprodutível de seus procedimentos, bem como a clareza de normas e técnicas, para que qualquer pessoa, de posse das informações necessárias, seja capaz de utilizar-se do conhecimento acumulado. Samuel Hahnemann, com extremo senso científico, alicerçou a Homeopatia em princípios bem definidos, sendo a reprodução de seu método simples e precisa. Dificuldades surgiram devido ao desenvolvimento de fundamentos, sem justificativa adequada, além do distanciamento da uniformidade e lógica, levando este ramo da ciência, muitas vezes, à condição de quimera, sujeita às mais diversas críticas do meio acadêmico. O resgate de princípios e a atualização de conceitos com base no desenvolvimento das diversas áreas correlatas da ciência são condições indispensáveis para a boa prática da "Arte de Curar", remetendo a Homeopatia ao lugar de destaque que merece entre as terapêuticas mais científicas de nosso tempo. Aproveitar-se do conhecimento acumulado não significa, necessariamente, aceitar os paradigmas em que se baseiam as terapêuticas atuais. Pelo contrário, à medida que se incorporam os resultados de quase dois séculos de pesquisa ao conhecimento homeopático, emerge a possibilidade de se mudar alguns dos paradigmas aceitos atualmente. É, na realidade, o que buscamos ao estudar a Homeopatia sob a luz da moderna fisiologia, morfologia, bioquímica e fisiopatologia, demonstrando o quanto o conhecimento homeopático também pode colaborar para o aperfeiçoamento dessas áreas, uma vez que a Matéria Médica Homeopática, como temos insistido, é o maior, senão o único, Tratado de Fisiopatologia Experimental Humana. Extraído de HOMEOPATIA, MEDICINA INTERNA E TERAPÊUTICA (ROMEU CARILLO JUNIOR) |
(...)Hahnemann não teve dificuldades para reconhecer as causalildades extrínsecas ou, como queria ele, "causas ocasionais", definir "força vital", identificar as "incontáveis formas de moléstias" e as "manifestações externas específicas" mas, por outro lado, pouco ou nada esclareceu sobre o que chamou de "discrasia interna", que é, na realidade, o verdadeiro fator de especificidade, isto é, cada "miasma" apresenta uma "discrasia" característica. Não é de se admirar que Hahnemann não tenha conseguido esclarecer o referido aspecto, uma vez que lhe faltavam os conhecimentos fisiológicos e fisiopatológicos necessários. O mesmo ocorreu com autores mais recentes que, mesmo estando mais próximos da desejada explicação, ainda levantaram hipóteses algumas vezes indefensáveis sob o ponto de vista do conhecimento científico atual. Compreender a "discrasia" significa desvendar o mecanismo interno, característico para grupos de indivíduos, que leva ao surgimento de "moléstias". Isto equivale compreender, por exemplo, no caso da psora, os mecanimsmos específicos sob o ponto de vista fisiológico e fisiopatológico, que levam ao surgimento das "moléstias" dela derivadas e assim também para outros "miasmas". Este conhecimento deve influenciar sobremaneira a escolha do remédio, uma vez que os medicamentos homeopáticos nada mais são do que a expressão das tendências mórbidas de experimentadores "sadios", levando em conta suas particularidades. Extraído de HOMEOPATIA, MEDICINA INTERNA E TERAPÊUTICA (ROMEU CARILLO JUNIOR) |
Mudar para um novo paradigma em que a instabilidade do sistema pudesse representar tanto um sinal de destruição quanto de mudança, criaria a possibilidade de se encontrar uma terapêutica que não tivesse como escopo principal exterminar a doença, mas sim garantir sua evolução para a adaptação do sistema da forma mais suave e rápida possível. Alguma terapêutica que reproduzisse, aos moldes do treinamento de um atleta, situações de estresse semelhantes ao da doença no sentido de adaptá-lo rapidamente, sem a possibilidade de lesioná-lo como pode fazer a referida doença natural. Alguma terapêutica, que por produzir estímulos semelhantes à doença, e não idênticos a ela, tivesse a possibilidade de estimular vias acessórias, ainda não utilizadas, que pudessem resultar na referida adaptação. Em outras palavras, produzir doenças artificiais semelhantes às naturais, com o objetivo de condicionar o sistema instável. Uma terapêutica que, por todos esses atributos, restabelecesse a ordem da consciência do ser biológico em todas as suas relações. Extraído de O MILAGRE DA IMPERFEIÇÃO (ROMEU CARILLO JUNIOR) |
Amit (Goswami) afirma que, no início do terceiro milênio, Deus será objeto da ciência e não mais da religião. Mas o que a ciência deve procurar saber? Do que Ele é feito ou como funciona? Qualquer que seja a pergunta, acho que já temos a resposta. Feito de cada ínfimo fragmento do Universo e de cada programa de ação que trabalha no processo de auto-regulação movido por imperfeições. Nesse movimento, sem jamais atingir a estabilidade completa, segue possibilitando a criação de outros movimentos e estruturas à custa da capacidade de adaptação ou plasticidade universal, além de alimentar a cognição, que será a base de novas tomadas de decisões. Assim, a consciência de cada indivíduo forma a consciência ampliada, que é mais do que uma pura reunião simples de consciências, mas a união dialética delas, como quer o funcionamento de um sistema complexo. Extraído de O MILAGRE DA IMPERFEIÇÃO (ROMEU CARILLO JUNIOR) |
Tomara que a ciência jamais explique Deus. Tomara que a ciência não explique a mística. Os místicos não necessitam seguir rigores científicos e estão livres para expressar suas teorias intuitivas que, se muitas vezes representam apenas quimeras ou intenções, outras vezes se transformam num norte para a ciência, esta sim à mercê dos rigores e das necessidades de comprovação. Que os místicos sigam à frente dos cientìstas e que estes sejam suficientemente humildes e inteligentes para retirar da mística tudo o que ela tem de bom a dar para a humanidade e ao Universo. Tomara que a ciência e a mística continuem convivendo sem jamais se encontrar completa e definitivamente, pois só assim poderemos ser ao mesmo tempo místicos e cientistas. Extraído de O MILAGRE DA IMPERFEIÇÃO (ROMEU CARILLO JUNIOR) |
(...) o processo dissipativo(*) não está apenas na base da autopoiese, por meio do assimilado, mas também da adaptação, que significa mudanças em nosso sitema, as quais favorecem sua manutenção frente às inevitáveis alterações do meio em que vivemos, o que também representa um exercício de plasticidade que, com o tempo, temos a tendência de perder(...) Não nos esqueçamos que a segunda lei da termodinâmica se aplica a sistemas fechados, isto é, a entropia cresce e destrói, e que a melhor forma de nos mantermos vivos é utilizando nossas imperfeições como motivos para nosso aperfeiçoamento e deixarmos nossso sistema aberto, mantendo ativo, destarte, o fluxo da vida. (*)Um dos oito elementos do sistema (teoria sistêmica). Extraído de O MILAGRE DA IMPERFEIÇÃO (ROMEU CARILLO JUNIOR) |
O segredo da manutenção da existência, e da saúde, não está em manter o sistema fechado por uma muralha intransponível a qualquer influência externa, mas a de ter a capacidade de selecionar os INPUTS requisitados e a de processar e aprender com os não-requisitados, num movimento cognitivo e adptativo que, cada vez mais, tenha a possibilidade de manter as constantes internas em constante e adequada variação diante de uma quantidade cada vez maior de aferências situacionais(*). (*)Elemento da teoria de Pioter Anokhin. Extraído de O MILAGRE DA IMPERFEIÇÃO (ROMEU CARILLO JUNIOR) |